A lareira aquecia, ardente.
No fogo, queimavam papéis,
conquistas, sentimentos, tropéis
num galope entorpecente.
O vinho que descia pela garganta, apertada,
afogava as palavras que tentavam sair,
que, trôpegas, insensatas, tornavam a subir,
desvelando segredos da alma embriagada.
No silêncio, os olhos, com tanto a ouvir,
faiscavam, e tornavam logo a fechar,
temendo que a alma fosse permitir
que o corpo continuasse a incendiar.
As mãos, em toques suaves e fortes,
davam testemunho da confusão do momento,
dançando, em cautelosos gestos, a extasiante sorte
de viver, tão plenas, sensações e sentimentos.
E, em meio a tanta sintonia,
mais duro e doce que a agonia,
que ao corpo quase nada permitia,
foi ver de medonho, sem ser pecado,
que as almas haviam se amado.
Fabiana Botelho